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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Gripe - Fatos.


Gripe - Fatos

Há 2400 anos o médico grego Hipócrates descreveu os sintomas, manifestações e complicações da doença que hoje conhecemos como Gripe.
No mundo moderno ocorre, tipicamente, uma epidemia de gripe a cada ano. Tudo começa no inverno no Sudeste Asiático, de onde a epidemia se alastra para a Europa, América do Norte e subsequentemente, América do Sul, inclusive Brasil. É o que chamamos de Gripe Sazonal (dependente da estação do ano).

Apesar de haver uma percepção popular de que a Gripe é uma doença banal, todos os anos milhares de pessoas no mundo inteiro perdem dias de trabalho ou de estudo por causa da gripe; muitas perdem a vida. O Organização Mundial da Saúde estima que, por ano,entre 250 mil e 500 mil pessoas morrem, no mundo, por causa da gripe.

Por causa disso, há pelo menos duas décadas implementou-se a vacinação das populações mais vulneráveis: idosos, crianças pequenas, imunodeprimidos, etc. Contudo, os indivíduos jovens e saudáveis também podem se beneficiar da vacina contra a gripe. Muitas empresas perceberam que é custo-efetivo vacinar os seus funcionários: a vacina custa menos que o prejuízo decorrente das faltas dos funcionários que adoecem de gripe.

Os vírus da gripe circulam basicamente em quantro espécies animais: homens, aves, porcos e cavalos. É frequente ocorrer transmissão dentro da mesma espécie e entre espécies.

Por exemplo: uma ave migratória portadora de um novo vírus da gripe pode vir do Canadá e infectar aves silvestres na Ilha de Itaparica na Bahia, as quais, por sua vez podem infectar aves domésticas.

Uma ave doméstica infectada pelas aves silvestres pode infectar um rebanho de porcos ou seres humanos.

Os vírus da gripe são extremamente mutantes; à medida em que eles vão infectando novos indivíduos de uma mesma espécie ou indivíduos de outras espécies, eles vão ganhando novas características e misturando o seu material genético com outros vírus da gripe com o qual o outro indivíduo possa estar infectado. Os vírus aviárioscostumam ser os mais agressivos, tanto para as aves quanto para os seres humanos.

Para quem não está familiarizado com genética, pode ser difícil entender o que se passa quando um vírus sofre uma mutação. Vamos tentar explicar: as dezenas de raças de cães que conhecemos são o resultado de um longo processo de evolução genética; todos são cães, pertencem à mesma espécie: o dócil e pequeno yorkshire, o feroz e encorpado rottweiller, o vagabundo vira-lata.

As mutações virais ocorrem de maneira muito mais rápida e instantânea do que as mutações  dos mamíferos. Quando falamos que um vírus mutou, estamos nos referindo a algo equivalente a um cão vira-lata transformar-se em um husk siberiano, ou um pitt-bull transformar-se em um poodle. Sim, em um processo de mutação, o vírus tanto pode ficar mais agressivo quanto mais brando.

Em 1918 a humanidade sofreu uma das maiores catástrofes sanitárias de que se tem notícia, a famosa Pandemia de Gripe Espanhola, que atingiu virtualmente todos os cantos da terra e matou etre 50 e 100 milhões de indivíduos no mundo inteiro. O vírus que causou aquela pandemia era um vírus aviário puro, A/H1N1.

Subsequentemente este vírus perdeu força, incorporou outras mutações e continua circulando pelo mundo até hoje (Vírus sazonal).

A propósito, os vírus sazonais que estavam circulando no inverno europeu / norte-americano de 2009 antes do aparecimento da nova cepa suína eram justamente o velho vírus A/H1N1, o vírus A/H3N2 e um vírus B. Quem tomou vacina para gripe em 2009, tomou uma vacina composta destas três cepas.

Aqui há terreno para confusão pois tanto um dos vírus sazonais quanto o novo vírus com inserção suína se chamam A/H1N1. Só dá para saber quem é quem através de sequenciamento genético.

Aliás, assim como a Gripe Espanhola não se originou na Espanha, mas muito provavelmente nos Estados Unidos, o novo vírus A/H1N1muito provavelmente não se originou no México, mas... nos Estados Unidos.

Há indícios de que este vírus já estava circulando nos Estados Unidos algum tempo antes do surgimento da epidemia mexicana em abril de 2009, mas não estava sendo reconhecido justamente por causa da sua semelhança com o vírus sazonal A/H1N1. Somente quando os mexicanos enviaram suas amostras para confirmação no Laboratório Nacional do Canadá, este vírus foi identificado como novo e o alerta foi lançado.

Desde 2003 a Organização Mundial da Saúde está em estado de alerta para uma possível pandemia de Gripe Aviária, que está sendo gestada no Sudeste Asiático e no Oriente Médio; Trata-se de um vírus extremamente agressivo, A/H5N1, que tem um índice de letalidade de aproximadamente 70%.

Os países membros da OMS foram instados a se prepararem para esta possível pandemia. Muitos países membros, inclusive o Brasil, montaram planos de enfrentamento, com treinamento de profissionais, montagem de infraestrutura e compra de antivirais.

No entanto, até o presente momento, este vírus A/H5N1 não adquiriu características genéticas que permitam a transmissão sustentada entre humanos. Os indivíduos acometidos tem história de contato com aves doentes ou com suas carcaças. Os últimos casos descritos desta doença ocorreram no Egito em Julho de 2009. Trata-se de umaepidemia em evolução.

Quando a Epidemia do novo vírus da gripe A/H1N1com inserção suína surgiu no México em abril de 2009 com uma alta mortalidade dos indivíduos acometidos, a Organização Mundial da Saúde e muitos dos seus Estados membros, inclusive o Brasil, ativaram o seus planos de enfretamento previamente montados para a epidemia de A/H5N1. Contudo, à medida em que a pandemia do novo vírus A/H1N1expandiu-se pelo mundo, percebeu-se que a sua letalidade não é superior à dos vírus sazonais.

Mas nós estávamos preparados para uma catástrofe. E por causa disso, algumas distorções ocorreram: Os primeiros casos da nova gripe, em São Paulo, foram todos internados na UTI de um hospital de referência, independentemente da gravidade do caso, o que gerou uma situação peculiar. Via de regra, um paciente que está hospitalizado na UTI pergunta ao médico (quando pode falar..): "Vou sobreviver, doutor?". Aqueles pacientes perguntavam: "Como assim, não tem conexão 
wireless neste hospital??!!"

Por causa desta resposta oficial desproporcional e por causa dos alardes midiáticos, a população acorreu aos serviços de emergência. Iniciamente eram as pessoas que chegavam de viagem ao exterior, em seguida seus familiares e colegas de trabalho, uma pessoa que morava perto do aeroporto... Logo, a população em geral.

Os serviços estão superlotados, públicos e privados, com tempo de espera de 3 a 8 horas, dependendo do dia. O Ministério da Sáude foi restringindo cada vez os critérios para coleta do exame que confirma odiagnóstico da nova gripe (
PCR real time) e de prescrição do antiviral Oseltamivir (Tamiflu).

Os médicos e demais profissionais de saúde estão cansados e frustrados. Ninguém aguenta mais ver mais um paciente com gripe!

O cansaço se deve à superlotação dos serviços. Quem trabalha em Pronto Socorro tem a sensação de que está "enxugando gelo"; a frustração se deve ao fato de que, por mais que o Ministro, o diretor do Hospital ou o Professor da Faculdade de Medicina falem na televisão que não há [mais] razão para pânico, a população não acredita e continua compararecendo em massa aos hospitais.

O fenômeno que estamos observando agora é o da peregrinação: o paciente passa de serviço em serviço, no convênio, no PS público do bairro, em um hospital de referência e depois no outro hospital de referência, por que ele quer saber se tem mesmo ou não a gripe suína.

Ou porque a patroa "exige" que o hospital de referência forneça um documento atestando que ele/a não tem a gripe, para que possa voltar a trabalhar.

Com isso, ao invés de seguirem as recomendações óbvias para quem está com gripe: repouso, líquidos, comida e cobertor quentinho, os paciente estão perdendo horas nas salas de espera dos hospitais e em transporte público, expondo-se ao risco de piorarem aos seus quadros por falta de repouso e infectando ainda mais pessoas, alimentando o circuito.

Apenas alguns grupos merecem atenção diferenciada: Mulheres grávidas, idosos ou crianças menores de dois anos, portadores de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, asma, bronquite, obesidade mórbida (IMC >40), imunodeprimidos, como aqueles que estão recebendo quimioterapia ou radioterapia para o câncer e pacientes infectados por HIV instáveis, com CD4 baixo. Ou qualquer indivíduo que apresente manifestações de complicações: dificuldade para respirar, dor ao respirar, desidratação, olhos encovados.

Se os hospitais não estivesem superlotados, estas pessoas poderiam receber uma assistência mais rápida e mais eficaz, o que contribuíria para diminuir a mortalidade que está sendo observada nestas populações.

São Paulo, 13 de agosto de 2009
Fábio Araujo
Médico Infectologista


Um comentário:

  1. Depois que postei o texto aqui, o autor postou-o no blog Epidemias Emergentes, em http://epidemiasemergentes.blogspot.com/2009/08/gripe-fatos.html . Comente e debata o assunto no referido endereço.

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