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terça-feira, 28 de agosto de 2007

Primogênitos.

Quando meu irmão nasceu, passei 3 dias internado. Eu tinha febre alta, dores no corpo, diarréia e vômitos. O diagnóstico era incerto, pois ainda não era moda atribuir tais quadros a viroses. Quando me dei conta de que não iria conseguir que o recém-chegado morresse ou fosse devolvido, me curei. Até hoje sinto que ele fez uma tremenda sacanagem comigo. Ele simplesmente desorganizou o meu mundo, assim, de repente, sem qualquer acordo ou composição. Naquela época eu ocupava, há 5 anos, o discreto cargo de Rei do Universo, e percebi que seria deposto. Eu era o único filho de uma adorada filha única. A coisa era tão boa que, eu já adolescente e mesmo dividindo as atenções com o caçula, minha avó cortava queijo e doce em cubinhos, arrumava num pratinho em pares com tamanhos próximos, enfiava muitos palitinhos, e levava pra mim. Até hoje meu irmão não entende porque eu o maltratei enquanto pude, e não me perdoou. Nisso estamos quites.

Uma amiga, 37 anos, tem um único filho de quase 1 ano. O progenitor não mora com eles. Na casa moram outras 4 mulheres, nenhum homem, e nenhuma outra criança. O menino tem avós, e ainda umas 18 “tias”, amigas ou parentes da mãe, a maioria sem filhos. O sacaninha é lindo, super-simpático e muito carismático! Alguns de nós adivinhamos onde isto tudo vai levar, e portanto defendemos a criação do que chamamos “Fundo para a Promoção da Saúde Mental de Júnior” - FPSMJ. Abriríamos uma conta corrente, na qual faríamos depósitos periódicos, de acordo com a disponibilidade de cada um. Através de um documento, vincularíamos a utilização dos fundos ao pagamento de despesas com a promoção, manutenção ou recuperação da saúde mental do jovem que é objeto das nossas preocupações. Despesas com psicólogos infantis, psicoterapeutas conservadores, e medicamentos de tarja preta seriam pagas com recursos do FPSMJ. Prevejo alguma discussão no seio da nossa comunidade a respeito de o Fundo poder ser utilizado para custear de pares de tênis de 300 Dólares, maconha, garotas de programa, terapias alternativas, astrólogos, cocaína, telefonemas de 2 horas de duração para a namorada que estará passando um tempo em Melbourne, e tarólogos, provavelmente nesta ordem cronológica. Nota: propor a criação de um conselho deliberativo e/ou comissão de ética. Uma outra corrente preconiza providenciar, com urgência, um irmãozinho ou irmãzinha. Quanto a esta alternativa, minha amiga admite ter certas dificuldades. Mas eu tenho visto progressos.

Lúcia Helena foi a primeira. Uma princesinha, o verdadeiro amor da vida do pai, este um pobre homem cheio de dinheiro. Outros 2 filhos vieram. Lúcia estudou em colégio católico, andou de ônibus pela primeira vez aos 16 anos, fez ballet. Quando finalmente conseguiu permissão pra namorar, tentou que os namoradinhos convivessem com a família. Hoje ela ri das situações que os pobrezinhos enfrentaram, mas na época não houve humor possível. Foi fazer Medicina na Unicamp. Cursou durante 2 anos, o pai já sonhando com a futura clínica na velha casa de Brotas. Um dia telefonou ao pai e disse que estava abandonando o curso. O pai berrou, chantageou, ameaçou, passou mal, etc. Então percebeu que por telefone não estava funcionando, e foi a Campinas coagir pessoalmente. No apartamento encontrou Esther, e uma carta destinada a ele. Ali, muita novidade, e um número de telefone da capital. Pai e filha encontraram-se no dia seguinte, num McDonald’s. Desde então viram-se pouco. Além de São Paulo, Lúcia morou em Cambridge, Bruxelas e Sevilha. Hoje trabalha como tradutora, e se apresenta como “Lucy”. Tem uma filhinha de 6 ou 7 anos, e vive com sua companheira, Gema, uma espanhola de parar qualquer trânsito. Há dias me mandou um e-mail; o tom carinhoso de sempre, e animadíssima com seu novo affair, um bailarino queniano. Quando vem a Salvador, Lucy fica com Tia Nice, uma irmã da mãe. O pai ainda mora na Vitória, sem vista pro mar.

Um comentário:

  1. Incrível como sempre que se pensa em proteger alguém imediatamente se planeja como tirar a liberdade e deliberar sobre o protegido.

    Vale para todos os pais: do Jr e da Lucy

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