Decorria o ano da graça de 2001 quando Greyce foi demitida da loja. Pegou o dinheiro da rescisão, mais algum emprestado com a mãe, e um pequeno patrocinio conseguido com o avô, tirou o passaporte, comprou a passagem, combinou tudo com Michele. Marco levou-a ate Guarulhos, ela quase perdeu o vôo com destino ao Galeão. Poucas horas depois estava cochilando num tranquilo vôo RG8704.
Michele aguardava ansiosa no desembarque internacional. Foram dividir o quarto que a amiga alugava num apartamento onde moravam outros 4 brasileiros, todos de São José. O primeiro trabalho foi numa "pastelaria". Muito serviço, ela acordava muito cedo, o dinheiro era pouco.
Na pastelaria conheceu Nuno. O rapaz trabalhava com o pai em uns stands de jogos na Feira Popular de Lisboa. Greyce foi conhecer a Feira, e foi conhecendo o Nuno. O negocio ia bem, como demonstravam a quantidade de gente que circulava por lá, e tambem o "Bê Eme" do Nuno. Para sorte da Greyce, a ex-namorada do moço, que trabalhava por la como ajudante, arranjou um emprego num escritório e pediu demissão. O Nuno quis ajudar a Greyce; conversou com o pai, e fez uma proposta à menina. Ela topou.
Greyce arrumava garrafas, apanhava argolas, entregava premios, buscava lanches, e pegava caronas com o Nuno. Trabalho fácil e divertido. Uma das suas funções era peculiar. Três vezes por dia ela ficava sentada numa cadeirinha, a qual na realidade era uma pequena plataforma basculante. A tal plataforma ficava em cima de um tanque com água, e embaixo de um alvo. Quando a pontaria dos clientes não estava grande coisa, ela levava umas inconsequentes boladas. Greyce não gostava se via que o cliente estava mirando nela, e não no alvo, mas levava na boa quando o engraçadinho era bonitinho. A situação era menos engraçada pra ela quando um jogador acertava na mosca: a plataforma basculava automaticamente, e ela caía de uma altura de mais de 1 metro, dentro do tanque!
Até hoje não sei qual é a denominação desta função profissional. Novas profissões estão sempre surgindo, o mundo é assim, e o mercado de trabalho também. Os empreendedores são muito criativos, ou têm uma certa capacidade de copiar e adaptar, ou ambos, e a sociedade vai evoluindo, as pessoas seguem trabalhando como podem.
Antigamente tudo era mais simples. Quando alguém dizia que era médico, a gente sabia razoavelmente do que se tratava. Atualmente algumas pessoas têm grande dificuldade em explicar como ganham dinheiro, geralmente devido a ignorância nossa, mas, de qualquer forma, isto indica que ocorreram mudanças.
Por exemplo, hoje em dia há quem compre e venda utensílios que não têm existencia material. Tenho dificuldade em lidar com o conceito de utensílio imaterial. Uma limitação minha, obviamente. Por outro lado, e graças a Leminski, adoro o verbete "inutensílio"...
Greyce já nao trabalha na Feira Popular. Eu não sei bem o que ela anda fazendo, mas ela diz que não acorda cedo, o dinheiro é bom, o serviço é divertido, e raramente fica muito molhada.
Pô véi,
ResponderExcluirFiquei decepcionado pois achei que chegando ao fim do texto descobriria que a figura estaria em Salvador e trabalhando como girafa da Puc.
Provavelmente o nome da profissão é "mergulhanda"
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