Eu nao me interesso por noticias.
Por acaso no jornal de ontem vi um titulo a respeito de Lisboa e Salvador. Peguei o jornal, li a materia, achei interessante, soube que haveria outras materias sobre o tema nas edições de hoje, amanha e quarta-feira, então pedi a Célia que comprasse o jornal. Ela voltou de maos vazias, me disse que tinha ido a 3 lugares, o jornal estava esgotado "por causa da tragedia". Eu nao sabia de tragedia alguma. Ela me informou que ontem houve um acidente no estádio da Fonte Nova, com pelo menos 7 mortos, e dezenas de feridos.
Durante a semana passada falou-se bastante no jogo Bahia versus Vila Nova, portanto ontem, no inicio da noite, ao ouvir buzinas e gritos, fui levado a crer que o "Baêa" havia conseguido o almejado acesso à "série B". Fiquei contente pelos pobres torcedores.
Ontem à noite não estive incomunicavel, na realidade ate dei uma saidinha rapida pra comer um crepe. Nada me fez suspeitar que havia ocorrido um acidente no estádio. Nao percebi nas pessoas sinais de consternação, revolta ou surpresa. Nao ouvi conversas a respeito do assunto. Nao recebi e-mails ou telefonemas. Provavelmente porque estamos acostumados ao baixo valor da vida, ao pouco caso com a segurança, e à impunidade.
Pelo menos um "trio elétrico" tocou após a tragédia, e não faltaram público e animação.
Como nao me interesso por noticias, apenas ha pouco tive conhecimento que um estudo apontava a Fonte Nova como o pior dos 29 estádios recentemente avaliados em 18 cidades brasileiras. Alguém que supostamente é responsavel pela segurança dos usuários daquele estádio certamente soube das suas pessimas condicoes muito antes de mim, e a tempo de evitar esta tragedia. Sou capaz de apostar que tal (ir)responsável não adotou providencias que a teriam evitado, e que este ato nao será considerado crime.
Considero trivial a tarefa de escrever noticias a respeito do Brasil. Basta preparar um texto-base, deixar alguns espaços em branco, e então preenchê-los com a natureza do acontecimento, datas, locais, nomes e quantidade de vitimas, nomes e cargos dos responsaveis que tentam fugir às suas responsabilidades, e nomes e cargos dos que tentam tirar proveito da situação.
Quanto à nossa sociedade, torço pra que um dia consigamos sair da "série C".
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ResponderExcluirUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA
GABINETE DA DIRETORIA
O Estádio da Fonte Nova
A Faculdade de Arquitetura da UFBA através da sua diretoria e professores vem de público manifestar a sua posição diante dos fatos relacionados com o Estádio Otávio Mangabeira mais conhecido como “Fonte Nova”, declarando inicialmente sua total solidariedade às famílias atingidas pela tragédia ocorrida em 25/11/2007, em que ressaltam os aspectos humanos envolvidos e o direito objetivo quanto à responsabilidade do Estado.
Quanto ao destino pretendido pelo poder público em relação à Fonte Nova, manifesta sua estranheza quanto à decisão unilateral de implodir o Estádio sem uma avaliação técnica - competente, isenta e responsável - sobre as condições de estabilidade da estrutura e suas possibilidades de restauração.
O complexo esportivo da Fonte Nova na lavra de Mário Leal Ferreira nunca se limitou ao futebol e, desde sua origem, com a criação do DEEF (hoje SUDESB) abriga um programa social que transcende os objetivos comerciais e os interesses privados ligados à copa do mundo de 2014.
A este aspecto, alia-se o fato desta principal praça esportiva do Norte e Nordeste ser um marco visual importante para a cidade do Salvador, cristalizando um lugar significativo no entorno de um sítio histórico e de monumentos tombados, que não pode ser suprimido face à legislação federal em vigor. Projeto do Arquiteto Diógenes Rebouças, Professor Emérito da UFBA e Titular da Faculdade de Arquitetura, a Fonte Nova, construída nos anos 50 do século XX, é exemplar expressivo da arquitetura moderna na Bahia e patrimônio arquitetônico e urbano relevante. Sua concepção contou com a contribuição do escritório de Oscar Niemeyer, e a ela se referiu elogiosamente o urbanista Lúcio Costa, em parecer como membro do IPHAN, enfatizando sua implantação e sua integração com o Dique do Tororó, hoje um sítio tombado.
Conclui-se então que a decisão de implosão, anunciada antes mesmo dos resultados de uma perícia técnica estrutural e de uma análise urbanística e sócio econômica, constitui uma ação precipitada que não encontra justificativa, haja vista que, em várias partes do mundo e do Brasil, estádios são recuperados dentro das exigências técnicas próprias da contemporaneidade, continuando assim a cumprir seu papel social.
Salvador 03.12.2007
Profª. Solange Souza Araújo
Diretora
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