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A Cidade Encantada e o Espelho de Oxalá à sua frente guardam e pagam esse carma até hoje. Algumas cenas parecem surreais, como a que aconteceu no início do século XX: o navio Cap Frio, carregado de centenas de máquinas de costuras inglesas se arrebentou contra as pedras do Farol da Barra. Centenas de negros descendentes dos escravos que tinham sido explorados por europeus saquearam a carga e, na época, foi criado em Salvador o maior contingente de alfaiates do Brasil. O algodão já estava implantado no Recôncavo e muitos negros conseguiram juntar patrimônio, montando seus próprios negócios. As curvas do destino são bastante sinuosas. Se estas máquinas chegassem às lojas, jamais um negro poderia tê-las comprado. O resgate de uma tragédia quase sempre está ligado a uma reação cármica e as dívidas são acertadas “na raça”, independente da vontade de quem deve ou do desejo do credor. A Bahia, pelo visto, parece um tribunal celestial, onde anjos barrocos tocam suas trombetas, anunciando a redenção.
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O trecho acima é de autoria de Mário Cortizo Andion, homem mais conhecido pela alcunha do que pelo nome de batismo. Faz parte de "Cidade Dormitório", texto publicado no nectonsub. Recomendo. Clique aqui pra lê-lo na íntegra.
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