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sábado, 13 de junho de 2009

Eu odeio Dia dos Namorados.

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Eu odeio Dia dos Namorados.


Isso obviamente equivale a admitir perante os milhares de leitores dessa coluna que eu, sim, lamentavelmente, tristemente, insuportavelmente, humilhantemente, ando meio encalhado. Como todo navio trancado na areia que se preza, a maré até que sobe por alguns instantes, me sacode um pouco pra lá e pra cá, ameaça me fazer voltar ao mar aberto dos nossos amores mais ou menos tormentosos, e então, nada.

Pronto, passou o pior. Tendo admitido publicamente a extensão da minha tragédia, que seguramente não é compartilhada por nenhum leitor ou leitora dessa coluna - gente muito mais descolada, interessante, sexy e atraente do que eu (o que não chega a ser lá assim tãaao difícil, diga-se), vem o alívio. Ufa.

Portanto, posso me sentir livre para odiar o dia de hoje sem maiores complexos, afinal, como eu poderia gostar de um dia inteiro dedicado a tudo que não gosto ou não tenho? Não gosto de shoppings completamente tomados por mensagens de amor e compra. Quer dizer que se o sujeito não comprar um celular novo pra namorada ele é um insensível que não merece viver? Eu comprei vários celulares e olhem no que deu.

Se vocês não enviarem flores, não derem chocolate, não comprarem um vestido e não reservarem a suíte presidencial no motel Love me Tender, pimba. Não amam, não são dignos do amor, não merecem a namorada ou namorado que têm e devem viver uma vida de solidão e tevê a cabo, é isso? Odeio essa mensagem, em especial porque ela é eficaz pra caramba. Não que a gente acredite por completo que quem não compra, não ama. Mas quem vai arriscar nuns tempos desses? E em pleno inverno? Aqui, no Norte, até que a coisa não é tão complicada, um cobertorzinho e estamos salvos. Mas em Porto Alegre, inverno sem um amorzinho é congelamento assegurado. Por que vocês acham que eu, como tantas aves canadenses, migrei?

Vim em busca de melhor clima e quem sabe uma moça prendada, inteligente, que não gostasse de futebol na tevê e não soubesse cozinhar melhor do que eu para não vivermos conflitos; que tivesse lido a todos, e não gostasse de Clarice nem do Paul Auster, que não dormisse em filme iraniano e, uma vez que beleza não tem a menor importância, fosse uma beldade.

Ouso dizer que elas existem, e em enorme quantidade nessa charmosa São Paulo. Só que não me dão a mínima. Também, quem mandou eu querer que elas fossem inteligentes?

Odeio um dia dedicado ao que não pode ser obtido por meios convencionais.
Não se pode simplesmente dizer, opa, Dia dos Namorados chegando, vou começar a gostar da, hummmm, Clara, claro. A moça que é tudo isso acima e trabalha na mesa ao lado, perfeito! Seria perfeito, se funcionasse.

Odeio impossibilidades, tais como o Grêmio voltar a Tóquio, a Clara se apaixonar por mim até o meio-dia de hoje, em tempo pra gente se conhecer melhor, jantar, e quem sabe conhecer o Love me Tender; uma empresa de telefonia celular oferecer um smart phone que já vem com uma namorada idem, eu me sentir menos loser nesse dia dedicado ao sucesso.

O mais provável é mesmo pessoas como eu fazerem a coisa certa, que é visitar a locadora num horário de pouco movimento pra retirar clássicos do cinema de lágrimas e se trancar em casa, torcendo para ninguém, nem mesmo a mãe da gente ligar, lembrando que exatamente nesse dia dos dias, alguma coisa essencial faltou; algo que, ao menos desde a minha última ida ao shopping, eles não tinham nem em oferta, nem por um preço que eu, ao menos, pudesse pagar.

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