As interações sociais no Brasil ainda por muito tempo continuarão (ir)remediavelmente enfermas, acometidas pela história, por um passado que não passa, mas que se arrasta desde aquelas imemoráveis capturas pelas brenhas da África, pelos dias de caminhada até um porto, pelos solavancos dos navios negreiros, pelo aportar em outras terras, pelas derrubadas de árvores de madeira vermelha, pelos canaviais curtidos de sol, pelas pedras dos chapadões sem fim, pelos portos, no carregamento de pesados fardos, pelas fileiras de tijolos, na construção da morada alheia... pelas bacias, no alvejamento da roupa de outros... história que se arrasta nos olhos de quem, qualquer que seja a cor, assiste às desigualdades de ontem e de hoje, perniciosas, sem nenhum jeito, para agora. O desabafo daquele homem negro, num vôo repleto de "brancos", situação para ele inusitada - a embriaguez e as circunstâncias lhe exigindo a fala, lhe impondo mesmo a imperativa necessidade da palavra, daquelas palavras - é um indício do tempo em que vivemos. Tempo atravessado de outros tempos? Sim! Mas é melhor encararmos o fato de que esse é o nosso tempo. Suas coisas são aquelas com as quais temos de lidar. A fala desse homem, no ambiente em que foi dita, é uma performance em que a história delirantemente se manifesta, no presente, hoje, agora mesmo.
Na cabeça do rapaz era grande a pressão. Estudante de artes plásticas, negro, sob efeito de álcool, tentando enganar o medo. Segundo ele, era medo de voar. Seria?
As interações sociais no Brasil ainda por muito tempo continuarão (ir)remediavelmente enfermas, acometidas pela história, por um passado que não passa, mas que se arrasta desde aquelas imemoráveis capturas pelas brenhas da África, pelos dias de caminhada até um porto, pelos solavancos dos navios negreiros, pelo aportar em outras terras, pelas derrubadas de árvores de madeira vermelha, pelos canaviais curtidos de sol, pelas pedras dos chapadões sem fim, pelos portos, no carregamento de pesados fardos, pelas fileiras de tijolos, na construção da morada alheia... pelas bacias, no alvejamento da roupa de outros... história que se arrasta nos olhos de quem, qualquer que seja a cor, assiste às desigualdades de ontem e de hoje, perniciosas, sem nenhum jeito, para agora.
ResponderExcluirO desabafo daquele homem negro, num vôo repleto de "brancos", situação para ele inusitada - a embriaguez e as circunstâncias lhe exigindo a fala, lhe impondo mesmo a imperativa necessidade da palavra, daquelas palavras - é um indício do tempo em que vivemos. Tempo atravessado de outros tempos? Sim! Mas é melhor encararmos o fato de que esse é o nosso tempo. Suas coisas são aquelas com as quais temos de lidar. A fala desse homem, no ambiente em que foi dita, é uma performance em que a história delirantemente se manifesta, no presente, hoje, agora mesmo.
Na cabeça do rapaz era grande a pressão. Estudante de artes plásticas, negro, sob efeito de álcool, tentando enganar o medo. Segundo ele, era medo de voar. Seria?
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