Imagens

Imagens
Clique na imagem acima pra saber mais

terça-feira, 3 de junho de 2008

A alma da Cidade da Bahia.

Quando eu soube da exposição A Alma da Bahia fiquei estranhamente interessado. Combinei comigo mesmo que iria vê-la por volta das 17h00, e aproveitaria pra ver o pôr-do-sol de lá do Solar do Unhão. Acordo firmado, incluí o compromisso na agenda. Durante alguns dias li os lembretes diariamente, como faço sempre, mas não perdi a vontade de ver a exposição, como normalmente acontece. Fui no domingo passado.


As imagens são de enorme beleza plástica, mas não é apenas isto. O que impressiona é a maneira como aquelas fotografias captaram e revelam a alma da Cidade da Bahia. Os rostos, a religiosidade, o mistério, os corpos, a luz, as festas, a expressividade, o mar. Foi emocionante.

“Cheguei sozinha, seguindo não sei qual chamado. Não entendia a língua, não conhecia ninguém, não sabia que a noite caía assim tão repentinamente, nem que a África estava tão perto. A atmosfera densa da Bahia me assustou muito naquela primeira noite. Depois me agarrou, me conquistou, e me segurou por anos. Jorge Amado me acolheu com o abraço reservado aos amantes da sua terra e a Festa de Yemanjá chegou a me mostrar o vulto duplo da cidade da Bahia, solar e escuro, vital e misterioso. Com olho apaixonado procurei fotografar aquilo que se vê e o que não se vê da Bahia, aquela coisa inexplicável, mas palpável, que tanto me emocionava.”


Saí de lá me perguntando por que uma italiana, ou um argentino, ou um francês, ou um suíço, conseguem enxergar tão bem a alma desta cidade, apaixonar-se, encantar-se, envolver-se com ela, e nós, soteropolitanos, insistimos em ignorá-la. Certamente a alma de Salvador não está nos points, nos restaurantes sofisticados, nos camarotes, nas baladas, na “gente bonita”. Está nas feiras, mercados, no samba de roda, na sensualidade, nos temperos, nas lotas, no ritmo, na capoeira, nos negros, mestiços, mulatos, na música, na gente simples, nos terreiros de candomblé, nos tambores, na devoção, na fé...

“Com grande respeito, me encaminhei ao centro das cerimônias religiosas vibrantes dos ritmos dos atabaques. Vi os orixás dançarem e, com a permissão de Exú, tive o privilégio de conviver com as mulheres que conhecem seus passos e segredos, para entender e estudar, mas também para, afinal, me encontrar comigo mesma.”


Estamos praticamente cara a cara com Luanda; a Europa e a América do Norte estão muito distantes. Esta terra tropical que já foi de índios é agora povoada por negros e mulatos que se dizem morenos, e controlada por mestiços de diversos matizes que afirmam que são "caucasianos" (oriundos do Cáucaso, suponho).

Somos hipócritas ou realmente acreditamos que somos brancos? Renegar ou rejeitar a negritude é sinal de status, e condição necessária ao “clareamento social”?

Patrizia Giancotti, Carybé, Pierre Verger, Smetak , e tantos outros que não tinham necessidade de fingir-se de brancos puderam abraçar livremente a alma da Cidade da Bahia - negra, pobre, sincrética, esteticamente questionável.

“Bahia, aquela luz, a vitalidade imperiosa da sua gente, santos e orixás que, juntos, exprimem a mais ampla busca do sagrado, são agora para mim, qualquer que seja a minha residência, um ponto fixo e luminoso da geografia interior; uma flecha indicando outro rumo que, ultrapassando o meu olhar de fotógrafa, transformou, naquela encruzilhada de 1983, a minha vida”.

Os trechos citados são da fotógrafa Patrizia Giancotti.

A foto abaixo foi tirada no recinto da exposição por um mestiço descendente de africanos, franceses e portugueses. Quem quiser ver 100 fotos maravilhosas, vá ao MAM até o próximo dia 8 de junho.






2 comentários:

  1. querido, obrigada pelas suas palavras...até me colocou entre o Pierre e o Carybé. Fiquei emocionada...
    um grande beijo
    patriziagiancotti@gmail.com

    ResponderExcluir

Solte o verbo!