Esse texto foi escrito essa semana pelo meu amigo Roger Ribeiro, um cidadão brasileiro normal, professor de História e assalariado, um baiano soteropolitano que como eu, uma pessoa comum, está sofrendo a crise da campanha eleitoral...
E ainda temos que suportar a campanha de um quase certo 2º turno!!!
Dias de Índio
Rogo a todas as forças que me possam ajudar, iluminar, acalantar ou me atordoar de vez, para que escutem as minhas súplicas e permitam a esse reles ser humano, no auge dos seus limites de entendimento, possa se definir por uma opção consciente e responsável.
Olho para a imagem de São Francisco, São Longuinho, Santa Bárbara, São Judas Tadeu, Cosme e Damião, Yemanjá, Oxalá, Ogum, Maomé, Krishna, Buda ou quem mais vier, dede que venha para ajudar, a me fazer acender a luz do entendimento e me desfazer de uma enxurrada de informações e contra informações que simplesmente inviabilizam cem por cento de todas as possibilidades que se apresentaram a mim. Será que sou apenas eu? Ou você também tem a firme impressão de que tem alguém querendo atordoar seu juízo?
Ora, dia cinco de outubro, um domingo primaveril, estarei saindo de casa para cumprir meu dever cívico de participar do pleito municipal. Sim, nas modernas urnas eletrônicas estaremos eu e mais um monte de residentes (ou não), da cidade do Salvador, pingando voto a voto para dar os números finais que dirão quem formará a próxima Câmara Municipal e mais, quem ocupara a cadeira de mandatário máximo do município. Nossa! Que responsabilidade hem?! Já imaginou? Queira ou não, o caminho das trevas ou das luzes que trilharemos nos próximos quatro anos depende destes grãozinhos que encherão o papo das urnas.
Ah! Quando penso nisso, fico insone, tenso. Necessito ser preciso. Meu erro pode ser decisivo nos desdobramentos de uma gama variada de necessidades e interesses que vão desde a sobrevivência real até a maior acumulação de riqueza daqueles que tem por meta o “ouro de tolo”, nem que para isso tenham de manter a precariedade social, ou pior, garantir um futuro muito mais sombrio do que o sombrio presente, para as futuras gerações soteropolitanas.
Meu Senhor dos Navegantes, venha me valer!
Conversando com um sábio amigo, este me aconselhou:
- “Rapaz, não estás a ver que a solução não está no mundo místico?”
Rendi-me ao princípio do seu discurso. Não poderia mostrar-me como um crente sebastianista, um fanático apocalíptico, um teocentrista atemporal, afinal sou adepto da racionalidade, até mesmo cético em relação à possibilidade real de intervenções divinas no reino dos Homens. Ouvi-lhe com atenção.
Disse-me ele: - “veja, temos uma gama enorme de fontes para nos informarmos, rádio, televisão (incluindo aí o horário de propaganda política gratuita), comícios, panfletos, jornais, revistas, debates ou até mesmo bate-papos informais em rodas de amigos, colegas ou transeuntes quaisquer e você vem me falar de forças ocultas? Energias celestes? Iluminações sensitivas? Tenha paciência e me desculpe a franqueza”... (senti no tom da frase que agora euzinho seria reduzido dos meus 1 metro e sessenta e poucos centímetros, para reles milímetros na escala humana)... porém, aí sim você está sendo um irresponsável, inconseqüente, leviano”... Ai! Doeu, escutar isso assim na cara, na lata! Por mais que venha de um grande e sincero amigo, doe. Mas, pensei, é da dor que surgem os principais aprendizados. Vamos em frente.
Sai buscando esquecer o quanto estúpido estava sendo, passei uma borracha no passado próximo e busquei me apoderar apenas do aqui/agora para o futuro. Comprei os três jornais que circulam na cidade, procurei revistas locais.... Não as achei, mas não esmoreci. Comprei pilhas para meu radinho, organizei meus horários para não perder nenhum dos pronunciamentos na TV, nenhum telejornal local, nenhum debate. Fui a todos os comícios possíveis, enfrentei carreatas para estar junto aos abnegados candidatos, colecionei “santinhos” e folders de campanha.
Montei uma tabela por temáticas abordadas, por coligações partidárias forjadas, por ligações passadas, históricos de rentabilidades, relações de amizades, familiares, agremiações esportivas filiadas, propostas realizadas, religião confessada, possíveis intolerâncias inaceitáveis, opções de sexualidades enfim, busquei até que sabonetes usavam... Sentia o peso da responsabilidade e por isso tinha de estar realmente informado, consciente para que, por fim, meu voto fosse dado, ou melhor, computado.
Hoje fiz a tabulação dos resultados.
Dos cinco prefeituráveis:
Um diz que foi, por não sei quantas vezes, escolhido o melhor prefeito do país, o que pelos outros quatro lhe é negado.
Outro diz que cresceu, aprendeu e que não baterá mais no presidente, o que é imediatamente rebatido pelos outros quatro com a simples constatação, outrora louvável, de que quem puxa aos seus não degenera.
Um terceiro diz que está fazendo e quer continuar a fazer, os quatro oponentes o acusam de obras eleitoreiras, administração incompetente e benefícios a grupos excludentes.
Vixi, a coisa está ficando feia, mas...
Continuando na análise dos dados coletados, encontrei a matéria que um morador de um determinado bairro contesta o atual prefeito sobre casas populares! Já o prefeito mostra o pretenso morador como cabo eleitoral do denunciante. Diz que o mesmo não é morador do local e, para piorar, outro depoente, que se identifica como ator, ameaça processar o partidário do presidente por uso indevido do que pretensamente falou ou, não devia ter falado.
Por fim o último colocado nas pesquisas brada contra as grandes corporações, os famosos dragões. Mas, por mais estranho que pareça, ninguém o responde, não leva nem “bordoada” dos adversários, é como se não existisse. Dizem que será recorde do seu partido e chegará à marca histórica de cinco por cento do eleitorado. Mas uma coisa é certa, seu jingle de campanha é campeão nos celulares de quem realmente sabe das coisas, a meninada.
Sendo assim, valei-me, Rousseau, Voltaire, Diderot, Locke, Montesquieu, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, Schopenhauer, Schelling, Kierkegaard o faço agora? Minha força racional rendeu-se aos fatos. De agora em diante só rogo aos habitantes do espaço, de outras esferas, outras galáxias. Valei-me seres das naves intergalácticas onde encontrar a verdade neste mar de improbidades?
Ah! Esse meu direito compulsório! Sem saber, remete-me à original condição de tupiniquim, de tupinambá! A eterna condição acuada, entre a cruz e a espada. Êta Salvador que me da trabalho!
Roger Ribeiro,
26 de setembro 2008.
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